quinta-feira, 19 de maio de 2011

AS LAGARTAS DE BARRO E OS CUIDADOS NA FABRICAÇÃO DE ARMAMENTOS.

Enquanto na Europa e no restante dos BRICS a fabricação de armamentos é assunto tão estratégico que está sob controle majoritariamente estatal, como é o caso da Navantia espanhola, da Finmecanica italiana e da EADS, no Brasil estamos cometendo o erro de fazer grandes encomendas de armamento (vide os novos carros anfíbios e helicópteros do exército) para empresas privadas sob controle estrangeiro, como é o caso da IVECO e da Helibras. No caso da IVECO, a situação é ainda mais grave, na medida em que o desenho do carro anfíbio Guarani foi desenvolvido pelo exército brasileiro, e dará origem a um produto que poderá ser vendido por essa empresa em qualquer lugar do mundo, e que aqui terá um baixíssimo índice de valor agregado nacional. Se houver uma guerra, e nossa frota de carros anfíbios e de helicópteros for destruída em combate, o que vamos fazer? Procurar as embaixadas italiana e francesa para mendigar peças que nos permitam fabricar mais alguns anfíbios e helicópteros para as nossas frentes de batalha? Rezar para que os navios e aviões que estiverem trazendo essas peças para o Brasil não sejam afundados ou derrubados por nossos inimigos antes de chegar às nossas costas? E se a guerra for contra o país de origem do nosso "fornecedor" de armamentos?Como os argentinos aprenderam - a duras penas - na Guerra das Malvinas, quando os norte-americanos e europeus os deixaram, literalmente, de calças na mão, depender de armamento e peças alheias é o mesmo que construir tanques com lagartas de barro. Já passou da hora de montar – como é comum na China, na Europa, na Rússia, na Índia - uma grande empresa estatal de armamentos, ou, melhor, três grandes estatais de desenvolvimento e fabricação de armas, uma para cada uma de nossas Forças, ligadas às suas respectivas estruturas de pesquisa. Dinheiro para isso não falta. O país tem 328 bilhões de dólares em reservas internacionais. E não venham me dizer que não temos tecnologia para isso, como fizeram antes de entregar o nosso mercado de telefonia celular para portugueses, espanhóis e italianos, que no quesito telecomunicações são excelentes fabricantes de bacalhau, spaghetti e azeitonas. Tecnologia se compra e se impõe o seu repasse sob pena de não participação no mercado. Com a exigência de 100% de conteúdo nacional – absolutamente imprescindível em caso de guerra - e de controle direto do governo Federal sobre a empresa e suas instalações. A Estratégia Nacional de Defesa do governo Lula representou um passo crucial para a recuperação de nossa capacidade bélica, depois do abjeto abandono de nossas Forças Armadas durante o Governo de Fernando Henrique Cardoso. Mas ao contrário do que já aconteceu com a compra dos submarinos franceses, e com a encomenda do Ministério da Defesa de sistemas de comunicação via satélite para uma empresa espanhola, a INDRA, não se pode delegar a estranhos a defesa de nossa própria casa. Fabricação de armamento tem que ser controlada pelo Estado, com participação minoritária de capital nacional, e apenas simbólica, de capital estrangeiro. É isso que eles fazem em países como a Espanha e a Itália, mas, naturalmente, é justamente isso que eles não querem que nós façamos aqui mesmo, no nosso próprio País.

sábado, 7 de maio de 2011

OS NAVIOS DA VALE E O FIM DA HISTÓRIA

A Vale recebeu este mês o VALE BRASIL, primeiro de sete super-navios encomendados ao estaleiro Daewoo Shipbuilding & Marine Engineering Co, da Coréia do Sul. Com 362 metros de comprimento e 65 metros de largura, a embarcação tem capacidade para 400 mil toneladas e é o maior do mundo em sua categoria. Dinheiro que poderia ficar aqui se a Vale tivesse decidido – a exemplo da Petrobras - construir grandes navios no Brasil, contribuindo decisivamente para a recuperação da indústria naval e a geração de empregos em solo brasileiro.

Pode-se alegar que as siderúrgicas da Coréia do Sul – e por extensão, seus estaleiros - são clientes da Vale na compra de minério de ferro. Mas com certeza não foi mandando construir seus navios no Brasil que os sul-coreanos se transformaram em um dos países mais industrializados do mundo ao longo dos últimos 25 anos. Os Tigres Asiáticos, começando pelo Japão, ainda no final do Século XIX, e assim como está acontecendo com a China hoje, só cresceram por causa da decisão política de estabelecer uma indissolúvel e permanente aliança estratégica entre governo e iniciativa privada de capital nacional, para a competente substituição de importações e a conquista de mercados externos, agregando continuamente valor aos seus produtos e exportações. Lá fora, essa é a regra. Aqui, quando o governo tenta fazer a mesma coisa, todo mundo cai de pau no “perigo de reestatização” e no “nacionalismo anacrônico”, como se algum grande país do mundo – como o próprio Japão, os Estados Unidos, a Alemanha, a China – tivesse chegado a algum lugar sem zelar por seus interesses e sem uma postura nacionalista clara por parte da sua população.

Só pode ser ingênuo – ou canalha - quem anuncia que o nacionalismo acabou em um mundo em que os países mais fortes se impõem aos mais fracos pela força das armas. Ou em que, como acontece na Europa, o nacionalismo é tão exacerbado que já se transformou em racismo – pergunte-se aos brasileiros que são rotineiramente revistados, humilhados e enviados de volta ao Brasil dos aeroportos espanhóis, por exemplo, – ou, ainda, no qual, como está acontecendo agora nos Estados Unidos, milhões de pessoas saem para as ruas carregando bandeiras e gritando USA ! USA ! USA ! para comemorar, como se fosse carnaval, a morte de um único homem. O nacionalismo não morreu, como não morreu a História. Ao contrário do que escreveu Francis Fukuyama depois da queda da União Soviética, essa velha senhora está vivíssima - e de vez em quando explode violentamente, como uma bofetada, na cara de quem defende a “pax americana”, a “governança global” e o fim das fronteiras - como aconteceu naquele fatídico 11 de setembro, quando o primeiro avião carregado de passageiros atingiu a Torre Sul do World Trade Center.

OS USURPADORES

Em artigo publicado pela Folha de S. Paulo, o deputado estadual Campos Machado, se irrita com os fundadores do novo PSD, sob o argumento de que o seu partido, o PTB é herdeiro da sigla. O parlamentar paulista comete a mesma heresia que atribui a Kassab. Para começo de conversa, a distância entre o PTB de Roberto Jefferson (e de Campos Machado) e o PTB de Getúlio, Danton Coelho, João Goulart, Alberto Pasqualini e Santiago Dantas, é maior do que o espaço entre o nosso planeta e a constelação de Andrômeda. Outro erro do cavalheiro é atribuir a fundação do PSD a Getúlio. É certo que, sendo criado para contrapor-se à União Democrática Nacional, que reunia seus velhos adversários, o PSD era simpático a Getúlio, mas não foi idéia sua. A iniciativa partiu de Benedito Valadares, que encarregou o intelectual mineiro Mario Casasanta de redigir o primeiro rascunho de seus estatutos e programa. Conta-se que, ao confiar a tarefa a Casasanta, o ainda governador lhe pediu que pusesse alguma coisa de comunismo no partido, porque estava na moda. O comunismo estava na moda em razão do forte desempenho da União Soviética na Segunda Guerra Mundial. Casasanta deu-lhe então nome de “Social Democrático”, idéia associada ao marxismo desde o fim do século 19.

O PSD se associou ao PTB a partir da segunda metade do governo Dutra, mas de forma discreta. Sendo assim, apresentou seu candidato à sucessão do Marechal, contra o próprio Vargas e o candidato da UDN, pela segunda vez, o Brigadeiro Eduardo Gomes. O postulante do PSD foi o mineiro Christiano Machado, que se destacara na Revolução de 30. O povão, no entanto, votou maciçamente em Getúlio. Foi desse episódio que surgiu o verbo “cristianizar” no léxico político brasileiro. A aliança, para valer, entre os dois partidos foi uma operação de mineiros e gaúchos, para impedir a continuação do golpe da direita, insuflado pelos norte-americanos, que levara Getúlio ao suicídio. Como ocorrera em 30, os gaúchos e os mineiros se entenderam no dia 25 de agosto, em São Borja, logo depois do sepultamento de Vargas. Oswaldo Aranha, Tancredo e Jango começaram a conversar ainda na saída do cemitério, e concluíram que era necessária uma situação de fato. Todos sabiam que Vargas pretendia lançar a candidatura de Juscelino à sua própria sucessão, no pleito do ano seguinte, 1955. A razão política recomendava colocar o povo logo nas ruas, como uma forma de neutralizar os golpistas. Os trabalhadores e as classes médias urbanas teriam que se aliar, em nome do país, e eleger Juscelino contra os golpistas, associados ao capital estrangeiro. A aliança se formalizara com a candidatura de Juscelino, governador de Minas, e Jango, que representava o Rio Grande do Sul. Mais do que um acordo entre os partidos, tratava-se da aliança histórica entre mineiros e gaúchos, os dois povos mais politizados do Brasil.

Eleito em 3 de outubro de 1955, Juscelino enfrentou e venceu a tentativa golpista do presidente Carlos Luz, substituto de Café Filho, vice de Vargas, que deixara o cargo acometido de cardiopatia moral, acovardado no Palácio do Catete. O PSD que nasce em São Paulo nada tem a ver com o PSD mineiro, que teve seus últimos momentos de glória ao eleger, em 1965, Israel Pinheiro governador de Minas e o mineiro Francisco Negrão de Lima governador da Guanabara. Foi essa dupla vitória do PSD que levou a ditadura a impor o bipartidarismo, com a extinção dos velhos partidos e a criação da Arena e do MDB.

A sigla do PTB deveria ser de Brizola, o grande líder sobrevivente da agremiação fundada por Getúlio. Outros dela se apoderaram, o que levou o bravo gaúcho a fundar o PDT, a que se filiaria a presidente Dilma Roussef, antes de optar pelo PT.